
Levantamento revela aumento no consumo de analgésicos, estimulantes e calmantes, principalmente entre mulheres e adolescentes. Uso de medicamentos controlados aumenta e Governo analisa medidas
O uso de medicamentos controlados, comprados muitas vezes sem prescrição médica, teve um crescimento alarmante no Brasil.
São os dois lados de um mesmo comprimido. Bem indicado e com acompanhamento, medicamentos controlados salvam.
"Os analgésicos opioides servem para diversos tratamentos de dores, principalmente dores agudas. Enquanto os tranquilizantes ajudam no cuidado da ansiedade, as crises de pânico. Os estimulantes ajudam no tratamento de situações como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. São medicamentos extremamente relevantes”, afirma Luiz Gustavo Zoldan, psiquiatra do Hospital Albert Einstein.
Mas o excesso de prescrição, o uso recreativo, sem receita, para melhorar o desempenho ou amortecer a vida, podem até matar.
"Pode fazer com que a pessoa consuma cada vez doses maiores, que aumentam risco cardiológico, aumentam riscos de convulsão. Então, tudo isso tem consequências negativas para o paciente no caso de um prolongamento desse uso”, diz Luiz Gustavo Zoldan.
Foi o que aconteceu com a modelo Maria Luiza que, durante seis anos, viveu o céu e o inferno da dependência em estimulantes e calmantes, conseguidos facilmente no mercado paralelo.
"Minha psiquiatra fala que não sabe como eu não morri com as doses que eu estava tomando. A abstinência é igual nos filmes. É suor, é tremedeira, não conseguia dormir sozinha, ficava desesperada de ficar sozinha, medo. Um ano para voltar a uma vida normal”, conta Maria Luiza Vilhena.
De inferno particular a problema grave de saúde pública. O alerta já soou para o governo. Levantamento nacional de álcool e drogas revela aumento alarmante no consumo de analgésicos, estimulantes e calmantes, principalmente entre mulheres e adolescentes. O estudo mostra que, em 2023, mais de 14% dos brasileiros já tinham usado benzodiazepínicos, um tipo de calmante, com ou sem prescrição médica. Em 2012, não chegavam a 10%.
O consumo de analgésicos opioides, como a morfina e o fentanil, para dores muito fortes, disparou e aumentou mais de oito vezes no período. Quase 5% dos adolescentes já usaram calmantes sem receita, e uma de cada cinco mulheres já usou tranquilizantes, com ou sem prescrição.
Uso de opioides disparou no Brasil
Reprodução/TV Globo
O levantamento ainda está em andamento na Universidade Federal de São Paulo, em parceria com o Ministério da Justiça. Mas a ideia é envolver médicos e sociedade e evitar a epidemia devastadora que, nos Estados Unidos, chegou a causar mais de 100 mil mortes por ano por overdose de drogas como os analgésicos potentes.
"Se a gente controlar bem o mercado lícito e controlar bem as prescrições, também com muita informação ao público, com muita disseminação de informações sobre o perigo dessas drogas, a gente consegue evitar e o governo está fazendo um esforço muito grande para que aquilo que se viveu no Hemisfério Norte não aconteça aqui, porque realmente é uma tragédia”, afirma Marta Machado, secretária Nacional de Política sobre Drogas do Ministério da Justiça.
Epidemia do uso de medicamentos sem prescrição médica
Reprodução/TV Gobo
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